terça-feira, 31 de julho de 2012

O filho pródigo tinha um pai

"Nós também temos. Todos nós."
           

Até mesmo quem não é cristão conhece a parábola do filho pródigo, contada por Jesus na Bíblia (Lucas 15).

Mas, ao contrário do que muitos pensam, o foco principal da história que o Messias contou em forma de metáfora pode não ser exatamente a do filho que resolveu sair de casa por simples aventura. Obviamente, ele é parte importantíssima da trama. Entretanto, seu pai é que chama a atenção.

A atitude do filho, de sair da proteção paterna, já que tinha recursos (a sua parte na herança, dada ainda em vida) e ganhar a estrada por conta própria, numa analogia com quem acha que se basta e não precisa mais de Deus, era esperada.

Contudo, a atitude do pai, de receber o filho de braços abertos após tudo ter dado errado em sua jornada inconsequente, surpreende a muitos. Simboliza Deus, cujo amor incondicional permite que aceite de volta as “ovelhas desgarradas”.

Deus é justo

O filho mais novo pediu sua parte na herança. O pai a deu, mas também concedeu ao filho mais velho seu quinhão. Era justo. Ainda que o mais velho não tivesse pedido, a justiça foi feita. Todos temos alguém nos Céus que advoga a nosso favor.

Deus respeita o livre arbítrio

Outra atitude interessante do pai é que ele poderia fazer pressão para o filho não fazer a grande besteira que intencionava. Poderia ordenar que ficasse, ou tentar “comprar” sua permanência com algum mimo valioso ou outra vantagem de grande monta. Ainda assim, embora estivesse com certo poder em suas mãos para evitar que o rapaz caísse no mundo, atendeu ao que ele quis. A Palavra Sagrada não fala, claramente, o quão triste o pai ficou. Mas a tristeza é bem mais do que evidente em um acontecimento desses. Ainda assim, respeitou o livre arbítrio do filho, e deixou que fosse. Não quis “comprar” o respeito e o amor do filho. Desejava seu amor, mas sincero, sem ser por interesse.

O ímpeto de agir sozinho

O garoto não conversou com o pai antes de tomar a decisão. Não pediu conselhos. Já chegou contando o que ia fazer. Ele tinha um pai amoroso e sábio à sua disposição para conversar a hora em que quisesse, mas esnobou isso. Uma atitude um tanto egoísta até, pois não pensou na tristeza de sua família quando saísse. Pensou na vida de esbórnia que tanto desejava, doesse a quem doesse, sacrificando até parte preciosa do patrimônio da família, que o pai tanto batalhara para conseguir. Cresceu como membro daquela família, como filho, mas não agiu como filho. Crescer numa igreja ou dizer da boca para fora que é servo de Deus é uma coisa, ser de Deus de verdade é outra. Ele não foi sensível ao que o pai ensinara a vida toda. Estava ali fisicamente, mas não o ouvia de fato. Embora a atitude do jovem fosse tola, foi completamente respeitada.

Má utilização das dádivas

O filho recebeu a herança do pai em vida. Recebemos em vida a inteligência, bem como a fé que o Espírito Santo deposita em nós. Assim como o pródigo jovem dissipou sua herança vivendo desregradamente, muitas vezes utilizamos mal os dons dados por Deus. Adoramos a outros “deuses” (pessoas, falso status, dinheiro, etc.). Resultado: passar fome. Física no personagem da parábola e espiritual, em nosso caso.

O filho pródigo acabou tendo que trabalhar para “um dos senhores daquela região”. Quem esnoba a proteção de Deus trabalha para o inimigo, que cria uma situação de dependência nociva, aprisiona. E às vezes aprisiona em um cativeiro confortável, o prisioneiro nem se dá conta de que não pode sair, pois acha que está bem. No caso do rapaz da história contada pelo Messias, não foi assim. Teve que comer a lavagem destinada aos porcos para não morrer de fome. Desdenhou sua posição privilegiada ao lado do pai para virar um mendigo.

Seu pai podia, a qualquer momento, mandar alguém procurá-lo. Por amor, deixou que o próprio filho caísse em si.

O arrependimento

Na tribulação, na dor, recorreu ao pai novamente. O ancião, ao ver de longe aquele caco de gente que um dia fora seu formoso filho, correu abraçá-lo. Nada disse, não julgou. Simplesmente o recebeu em seu lar.

O garoto, humilhado, pensou em voltar para a fazenda do pai, mas como seu empregado. Era melhor do que morrer de fome. Mas teve que ser humilde para tomar tal decisão.

A misericórdia

No entanto, seu pai não o colocou para dormir no celeiro, ou nos alojamentos dos servos. Devolveu o jovem ao seu lugar de outrora. As mesmas roupas luxuosas, as mesmas joias, a mesma comida. E fez uma festa para ele, o que revoltou o outro filho, que reivindicou do pai a mesma atenção, pois era esforçado e se achava merecedor.

Embora a atitude do rapaz mais velho, de trabalhador responsável, fosse boa, parecia só fazê-lo em troca de algo: status e benefícios financeiros. Não fazia simplesmente por amor.

Deus aceita novamente os caídos. Resgata seus filhos que, um dia, como aquele rapaz da parábola, acharam que não precisavam mais dEle. Por amor, deixou que fossem. Por amor, os recebeu novamente.

Embora o filho gastador e irresponsável tivesse voltado ao mesmo lugar, já não era o mesmo homem.

A graça

Ele aprendeu que, independentemente de sua inconsequência, havia ali um pai para abraçá-lo. Sem esse amor, de nada adiantaria voltar. Embora até fosse sincero em sua atitude de regressar para trabalhar, recebeu bem mais do que esperava. Sem a figura do pai, nada disso aconteceria. E ninguém poderia censurar o velho se ele não aceitasse mais o garoto.

Ele não merecia, e recebeu. O irmão mais velho achava que merecia, e teve uma lição. O pai não era só pai para um ou para outro. Era para os dois. Apesar das muito diferentes atitudes e intenções de ambos, os amava igualmente, filhos que eram.

Contudo, para termos acesso à misericórdia, ao amor, à graça, Deus não as joga arbitrariamente em cima de nós. Não impõe. Pode, tem poder mais do que suficiente para isso.

Mas quer filhos que O amem de verdade.

E os recebe, de braços abertos.

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