segunda-feira, 16 de julho de 2012

Costumes da Bíblia - A hospitalidade

"A arte de receber até mesmo estranhos era um costume bastante respeitado pelos povos do Antigo Testamento"
           
Um importante costume observado na sociedade israelita, a hospitalidade pode ser considerada uma das pedras angulares daquela cultura. Embora não seja um costume unicamente de Israel, em nenhuma outra cultura há tantos registros históricos sobre receber as pessoas em casa. E muitos desses registros estão na Bíblia, com uma ampla variedade de modos e circunstâncias, entre a recepção de parentes, conhecidos e até mesmo estranhos.

Já no início, na história dos grandes patriarcas bíblicos. Há vários exemplos de como a hospitalidade era realizada. Abraão, por exemplo, recebeu três viajantes em um dia quente (ilustração ao lado). O ancião os convidou a uma pausa na fresca sombra de uma árvore próxima à sua tenda. Ofereceu-lhes água para lavar a poeira de seus cansados pés e lhes serviu uma restaurante refeição feita especialmente para eles. Os três eram anjos enviados por Deus, e comunicaram ao velho senhor que ele e sua esposa, Sara, teriam um filho de seu próprio sangue (Gênesis 18:1-10).

O mesmo tratamento a viajantes foi providenciado mais tarde pelo sobrinho de Abraão, Ló, que convidou dois estranhos viajantes para repouso em seu lar, em Sodoma. Ló também lhes ofereceu água para a limpeza dos pés e serviu-lhes revigorantes pratos. A refeição foi interrompida pelos sodomitas, que queriam invadir a casa e abusar dos visitantes, mas foram defendidos pelo anfitrião. Subjugaram Ló e iam invadir a casa quando os dois visitantes, anjos, defenderam quem os acolheu e o orientou a saírem da cidade, que seria destruída por Deus (ilustração abaixo) por causa do intenso pecado que nela reinava (Gênesis 19: 1-16).

Essa necessidade de proteger os hóspedes a todo custo também é demonstrada na história da concubina de Gibeá (Juízes 19). Ao ser recebido na casa de um ancião de Gibeá, os cidadãos daquele lugar quiseram entrar na casa e abusar dos viajantes que ali pousavam: um homem, sua concubina e um servo. Estupraram a moça por toda a noite, até a morte. Era dever dos anfitriões sacrificar até sua própria família e eles mesmos para proteger os hóspedes, protegidos a todo custo. A quebra do costume enfureceu de tal forma os israelitas, que estes empreenderam uma batalha contra Gibeá, cidade de benjaminitas. A fúria pela quebra da tradição foi tão grande, que após o embate foi feito um voto: nenhum israelita poderia mais se casar com alguém da tribo de Benjamin (Juízes 21).

A hospitalidade novamente aparece com destaque quando Gideão é chamado à liderança. Estando o jovem malhando o trigo colhido para fugir à violência dos midianitas que perturbavam Israel e maltratavam o povo, percebeu um viajante sentado sob um frondoso carvalho. Também era um anjo, convocando Gideão a lutar contra os midianitas. O rapaz também lhe ofereceu uma refeição feita em sua honra, que foi consumida pelo fogo em cima de uma rocha, para provar que era mesmo um anjo de Deus (como narrado em Juízes 6:11-21).

A punição para quem ferisse o costume da hospitalidade era sempre severa. Em 1 Samuel 25, Davi e seus homens, acampando próximo ao Carmelo, hospedaram pastores do rico Nabal para todo o grupo. Quando Davi mandou que alguns de seus moços pedissem pousada a Nabal, este, que era duro de coração, simplesmente negou. Davi soube e resolveu ir à propriedade de Nabal matar a todos que ali se encontrassem, quando a esposa do homem vil resolveu interceder, pedindo perdão a Davi e fornecendo-lhe alimento. O futuro rei a perdoou e preservou sua família. Nabal morreu naturalmente, 10 dias depois, e Davi tomou a sensata viúva, Abigail, por esposa.

Até mesmo os antigos canaanitas (habitantes originais de Israel) praticavam a hospitalidade com muito respeito, como mostra a história de Raabe. A mulher, uma prostituta de Jericó, recebeu dois viajantes, que vinham a ser espiões israelitas enviados por Josué. Os homens do lugar foram ter aos espiões, mas a anfitriã os protegeu, dizendo que já haviam partido. Em troca disso, os espiões garantiram que, ao tomarem Jericó, poupariam a moça e sua família (Josué 2).

A total proteção dos hóspedes também foi a base do encontro entre Jael e Sísera, embora o resultado não tenha sido feliz para o viajante. A primeira recebeu o segundo, que fugia após ser vencido pelos israelitas, em sua tenda, oferecendo-lhe pouso e alimento. Jael, esposa de Héber, teve de oferecer a pousada pedida pelo guerreiro, já que não podia, pelo costume, negar. Ela matou o inimigo, cravando-lhe uma estaca de tenda no crânio. Embora a mulher tenha ferido o protocolo da hospitalidade, eram tempos de guerra, e o ato foi encarado como heroísmo pelos israelitas (Juízes 4:17-22 e 5:24-27).
Em 1 Reis 17, a hospitalidade oferecida por um não-israelita novamente entra em cena. Elias pediu pousada e alimento a uma viúva muito pobre, em tempos de escassez. O Senhor providenciou que nunca faltasse alimento na casa da mulher. Depois de um tempo, o filho da viúva faleceu, e Elias orou a Deus para que revivesse o menino, no que foi atendido (ilustração acima).

Quando Israel já era um reino estabelecido, a hospitalidade permanecia entre os costumes do povo. Um bom exemplo é o da sunamita que hospedava Eliseu sempre que ele passava por sua casa, a ponto de mandar montar um quarto especialmente para ele. Em retribuição por sempre ser tão bem recebido, o profeta orou para que Deus desse a ela um filho, o que ela desejava muito, mas não conseguia por causa da avançada idade de seu marido. Ela teve um menino, que mais tarde ficou doente, vindo a falecer. Eliseu orou pelo garoto, que voltou à vida (2 Reis 4:1-37). O próprio Davi volta a demonstrar hospitalidade quando recebeu em sua casa Mefibosete (foto abaixo, da minissérie "Rei Davi"), filho de Jônatas, após a morte de seu pai e de Saul (2 Samuel 9).



Um dos grandes exemplos da arte de hospedar também é evidente quando o rei Ezequias convidou líderes e súditos de Israel e Judá para celebrar a Páscoa em Jerusalém. Quase todos os domicílios receberam hóspedes, como antes era comum à festa, reforçando o costume (2 Crônicas 30).

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