sexta-feira, 13 de julho de 2012

A geração Y existe mesmo?

"Consultor afirma que características atribuídas ao atual rótulo são próprias de jovens de várias gerações, e mudam de acordo com o contexto social"
           


“Não existe, e nunca existiu, essa classificação de gerações por ano de nascimento.” Quem afirma é Eduardo Ferraz, consultor em gestão de pessoas e especialista em neurociência comportamental, referindo-se à moda de rotular as gerações como X, Y, Z, ou sejam lá quais ainda aparecerão. Recapitulando, a mídia tem falado bastante sobre a atual geração (teoricamente, a Y) de jovens chamados “nativos digitais”, acostumados a fazer várias atividades simultâneas e dependentes da tecnologia da informação, com dificuldade em se manter por muito tempo em um emprego e com um método de trabalho bem mais flexível se comparado ao expediente tradicional.

Segundo Ferraz, pessoas impacientes, exigentes e ambiciosas sempre estiveram presentes no mercado de trabalho, assim como os profissionais acomodados e obedientes. O contexto profissional é um retrato da vida em geral, pois todos passamos a maior parte de nosso dia no trabalho, com reflexos em todos os outros aspectos da vida.

O consultor alude a uma pesquisa que incluiu 29 países para analisar a satisfação dos jovens de hoje no mercado de trabalho. Nela, 39% deles estão infelizes com o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. No Brasil, o índice sobe: 59%. Outro ponto interessante: 37% dos entrevistados se disseram “forçados” a aceitar o trabalho em que estão por causa do cenário econômico de seu país (proporção que cai para 27% no Brasil, dado o atual quadro de crescimento da economia).

Do outro lado, um estudo encomendado pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) mostrou que as empresas têm muita dificuldade em contratar pessoal qualificado. A saída é contratar gente mais nova. Aí é que entra a chamada geração Y: segundo os teóricos, uma galera intolerante, impaciente, ambiciosa ao extremo, que não para nos empregos e fica desmotivada facilmente. Eduardo acredita que essa história de geração X, Y ou Z é apenas um álibi para explicar a dificuldade de uma empresa em reter as pessoas talentosas em seu quadro. “Na Espanha, por exemplo, como o desemprego entre os 18 e 24 anos é de quase 50% (no Brasil não chega a 15%), a rotatividade é baixíssima, e os jovens que conseguem um emprego fazem o máximo para mantê-lo”. Daí ele pergunta: “Será que não há geração Y lá e em outros países com alto desemprego?”

O especialista explica que o contexto muda, e as pessoas simplesmente se adaptam. Sempre houve indivíduos impacientes e ambiciosos, assim como os tranquilos e estáveis. Há 30 ou 50 anos, eles já estavam lá, sem rótulo ou letra nenhuma. “As regras eram outras, pois se cobravam resultados a longo prazo, e mesmo os agitados se conformavam em ter um ou dois empregos durante toda a vida”. Hoje, isso mudou. “Se uma empresa no Brasil contrata alguém que, além de um bom currículo, seja impaciente ambicioso e competente, mas não dá oportunidades de crescimento, o que ocorre? Esse profissional arrumará outro emprego em pouco tempo. Não cuidou bem, ele ‘se manda’, e aí aparece a clássica explicação: ‘É que ele é da geração Y.’”

Eduardo resume: ”Ninguém é X, Y, Z ou qualquer outra classificação, apenas pessoas resilientes, agressivas e ambiciosas em maior ou menor grau. E isso depende da personalidade (que muda pouco) e da economia (que muda muito). Se houver uma crise e o desemprego crescer, a ‘geração Y’ desaparece e o jovem, antes exigente, aceitará o emprego que aparecer, ficando por lá até a situação melhorar. Sempre foi assim e sempre será.”

Resumo da ópera: a empresa contrata errado, o contratado fica infeliz sem saber o motivo, vai para outra empresa e o ciclo recomeça, até ele se sentir insatisfeito novamente. A empresa deve interpretar suas necessidades e as da pessoa, assim como sua personalidade e suas atitudes, independentemente da idade. “As pessoas certas nos lugares certos é o que faz uma empresa ter alta performance. O resto é discurso”.

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