segunda-feira, 23 de julho de 2012

Costumes da Bíblia - Os vários usos do azeite

"O óleo de oliva é citado em várias situações bíblicas, com ampla importância física e espiritual"
           

Não são poucas as passagens da Bíblia, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, em que o azeite de oliva aparece com um importante significado. Hoje mais popular na alimentação, também teve ao longo da história um forte sentido espiritual, além de outros usos, como em medicamentos e cosméticos.

A oliveira, cujo fruto dá origem ao tipo de azeite mais usado no mundo (existem os feitos com outros vegetais), surgiu na região que hoje compreende a Síria – não por acaso, segundo a Bíblia, onde já se situou o famoso Jardim do Éden, primeira morada do homem. Também já foram achadas oliveiras fossilizadas na área do atual Irã.

Há indícios de que o óleo extraído das azeitonas já era usado há 6 mil anos. Os povos da Mesopotâmia o usavam como protetor contra o frio. Untavam a pele com o azeite, que “pega emprestado” o calor do ambiente e não deixa o corpo perder o seu com facilidade. Guerreiros da época também o passavam para ressaltar a musculatura, a fim de intimidar os adversários.

O óleo extraído das azeitonas foi usado por milênios como combustível para lamparinas, fornecendo iluminação noturna nos imóveis, acampamentos ou com intuito cerimonial, como nas menorás (candelabros judaicos de sete lâmpadas, como os que eram usados no Tabernáculo e no Templo de Salomão).


Os mercadores de Tiro eram importantes comerciantes de azeite. Vendiam-no até mesmo ao Egito, já que as azeitonas egípcias não eram de boa qualidade. Israel também produzia muito azeite, mas também o comprava de Tiro. Relatos da comercialização do produto aparecem em livros bíblicos como 2 Crônicas, 1 Reis, Isaías, Ezequiel e Oseias.

Os fenícios e gregos espalharam o uso do azeite pelas outras regiões mediterrâneas (até hoje o óleo grego figura entre os melhores do mundo). Médicos da Grécia já o utilizavam em seus unguentos no século 7 antes de Cristo (a.C.), assim como os romanos e os próprios israelitas, além dos mesopotâmicos e egípcios, como atestam vários achados arqueológicos.


Usos

Além da utilização em temperos e para fritar alimentos, e também para conservá-los, o azeite era matéria-prima de medicamentos de uso tópico (como cremes e pomadas), de cosméticos (cremes e óleos para cabelos e pele) ou ainda misturado a essências perfumadas para uso no corpo ou em ambientes. Misturado a especiarias e flores, com ele era feito uma espécie de incenso.

O sentido espiritual do azeite é frequente até os dias atuais para povos como os judeus e os cristãos. O óleo simboliza a presença do Senhor, também representando o Espírito Santo. Com ele, eram ungidos reis e sacerdotes, conforme a vontade de Deus (como mostrado no vídeo abaixo, da minissérie “Rei Davi”, quando o profeta Samuel ungiu o jovem filho de Jessé).


Jacó, em suas experiências com Deus em Betel, por duas vezes ergueu altares de pedra, sobre os quais deitou azeite (Gênesis 28:18 / 35:14).

Nos sacrifícios diários, também era usado o azeite, sempre de ótima qualidade (como em Êxodo 29:40), assim como na purificação dos leprosos (Levítico 14:10-18). Manjares para ofertas a Deus eram comumente usados sem fermento e com azeite. A ausência do fermento significa a abstinência do pecado, enquanto o azeite simboliza a presença do Senhor. Quando as ofertas eram feitas para a expiação de pecados (Levítico 5:11) ou por causa de ciúmes (Números 5:15), entretanto, não se usava o azeite.

Também era comum os judeus untarem levemente o corpo com azeite após o banho (tem um eficiente efeito hidratante e suavizante da pele) ou antes de importantes festas. Mas em ocasiões tristes como a de luto, ele não devia ser usado – o óleo simbolizava, entre muitas coisas, a alegria.



Em uma das famosas parábolas contadas por Jesus, um samaritano encontra um judeu vitimado por agressão (ilustração acima) e, piedosamente, trata suas feridas com vinho (desinfecção, por causa do álcool) e azeite (com propriedades cicatrizantes). Este uso terapêutico também aparece em Isaías 1:6 (amolecimento de chagas para tratamento), além da cura espiritual (Marcos 6:13 e Tiago 5:14).

Falando em Jesus, Ele próprio, às vésperas de Sua prisão e execução, passou por momentos de oração no Jardim das Oliveiras (foto abaixo), no Getsêmani (“lagar de azeite”, do hebraico – “lagar” é como se designa a moenda que extrai o óleo das azeitonas, ou o local onde ela fica).


Graças aos antigos mercadores do Mediterrâneo, o uso do azeite se propagou para outras terras, que também passaram a produzi-lo. Hoje, o óleo é usado na culinária, cosmética e medicina de várias culturas, inclusive no Brasil, onde chegou pelas mãos dos colonizadores portugueses e espanhóis, cujos países hoje produzem azeite em larga escala, exportado para várias regiões do planeta. Nosso país é o sétimo maior importador mundial de azeite e o segundo de azeitonas, produtos presentes maciçamente em nossa culinária diária. Embora não tenhamos tradição no plantio de oliveiras, pesquisas já começam a dar frutos em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e logo poderemos consumir muito azeite de olivas brasileiras, cuja cultura se propagará para outros estados de clima propício.

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