sábado, 20 de outubro de 2012

Costumes da Bíblia - A pesca



Atividade era muito valorizada nos tempos bíblicos, e bem presente na época de Jesus, com métodos utilizados até hoje





A pesca e o consumo de peixes aparece em vários pontos da Bíblia, inclusive em boa parte da vida terrena de Jesus. Além dos antigos hebreus em várias das terras em que habitaram, a atividade também era realizada por outros povos concernentes à Palavra Sagrada, como os egípcios e gregos (e por muitos outros que não constam nela, obviamente). Hoje, mesmo com o advento da tecnologia – sonares que localizam cardumes, por exemplo –, alguns métodos dos tempos bíblicos continuam a ser usados por pescadores de vários países, em água doce ou salgada.

O Mar da Galileia, na verdade um grande lago, hoje tem em sua volta cidades importantes e forte atividade agrária. Na era neotestamentária era diferente: grandes cidades entremeadas por pequenas aldeias, bem povoadas. Jesus encontrou entre os pescadores dali alguns de seus apóstolos, como Pedro e André, que com Tiago e João eram sócios de uma empresa de pesca aos moldes da época, segundo indícios históricos.No Novo Testamento, a pesca já era mais arrojada, bem além dos métodos rudimentares de antes. O Mar da Galileia era um dos maiores polos pesqueiros daqueles tempos, com vários e movimentados mercados de peixes frescos e salgados nas vizinhanças – o nome da cidade de Magdala, por exemplo, significa “salga de peixes”.

“E, andando junto do mar da Galileia, viu Simão, e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.

E Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens.

E, deixando logo as suas redes, o seguiram.

E, passando dali um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes,

E logo os chamou. E eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os jornaleiros, foram após ele.”
Marcos 1:16-20

Redes, anzóis e lanças

Dos métodos utilizados, alguns são citados na Bíblia. A pesca com linha e anzol no rio Nilo, no Egito, aparece em Isaías 19:8, além da feita com redes. Quem também fala em anzol é o próprio Jesus, em conversa com Pedro:

Mas, para que os não escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir, e abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o, e dá-o por mim e por ti.”
Mateus 17:27


A pesca com lança, utilizada até hoje em culturas com menos recursos tecnológicos, já era praticada pelos povos bíblicos (como na ilustração egípcia acima). Deus indagou a Jó sobre o modo de capturar o leviatã (termo usado na antiguidade para grandes e perigosas criaturas marinhas, reais ou míticas), e aludiu a dois métodos: anzol e arpão, além do gancho usado para pegar peixes pela boca ou pelas guelras (Jô 41:1-7). Conforme a pesca foi aperfeiçoada ao longo do tempo, dispositivos para lançar arpões foram desenvolvidos, como canhões e armas de mão, estas últimas mais utilizadas na pesca submarina.



Voltando à lança, era comum a prática da pesca noturna. Uma lanterna presa à proa ou à popa do barco (às vezes em ambas) produzia uma luz que atraía os peixes até a superfície, onde eles eram facilmente arpoados (como os indígenas norte-americanos representados na pintura acima).

As redes tinham várias formas, algumas utilizadas até hoje. A que conhecemos como tarrafa em algumas regiões do Brasil data daqueles tempos: de forma circular, com pesos nas bordas (antigamente, de pedra, e com o tempo, de chumbo). Ao ver o cardume, o pescador a lançava. Os pesos faziam com que a rede descesse e os peixes ficavam presos, enroscados. O dispositivo era puxado por uma corda atada ao meio do círculo. Ela pode ser lançada da margem (foto abaixo), ou com o pescador submerso até a cintura, e também pode ser jogada de píeres ou mesmo de barcos. Ao que tudo indica, Pedro e André estavam lançando esse tipo de rede da margem ou de bem perto dela, o que possibilitou que Jesus os chamasse e fosse ouvido (Marcos 1:16-17).



Redes costumam prender tudo o que está em seu caminho, não fazendo distinção de peixes. Essa separação era feita pelos pescadores, tal como acontece ainda hoje. Jesus usou essa seleção para ilustrar o fim dos tempos:

“Igualmente o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda a qualidade de peixes.

E, estando cheia, a puxam para a praia; e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora.
Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus de entre os justos,

E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes.”
Mateus 13:47-50


As redes conhecidas hoje como seine, ou de varredura, aparecem nos livros de Habacuque (1:15), usadas com a ajuda de barcos, ou em versões menores, de uso manual, feito por duas pessoas ou mais (foto acima). Nos tempos neotestamentários, elas tinham cerca de 3 metros de largura, com comprimento variável. Ficavam suspensas na água como uma grande cerca, flutuando com a ajuda de boias de cortiça na parte de cima, com pedras na parte de baixo, que as esticavam. Um barco fazia um círculo com a rede, cercando os peixes, e outro barco juntava-se à operação, ao qual se prendia a outra ponta da rede, e ambos a arrastavam por um tempo e depois a erguiam como uma grande bolsa. Hoje, há barcos mecanizados que fazem o trabalho sem a ajuda de outro veículo, com poderosos guindastes que erguem as redes.



As embarcações

Falando nos barcos, os dos tempos bíblicos não eram muito grandes. Recentemente, um barco da época de Jesus foi encontrado na lama do Mar da Galileia, e foi exposto em um museu no kibutz de Ginosar – ou Genezaré, o nome local do lago – (foto acima), assim como um modelo em tamanho natural da embarcação na íntegra.


Barcos bem parecidos com os daquela época ainda são utilizados por pescadores conservadores da Idade Contemoporânea (como o da foto acima, tirada por volta do início do século passado no Mar da Galileia), e outros seguem quase o mesmo desenho, embora adaptados com materiais e equipamentos mais modernos (como na foto abaixo, no porto de Jafa, Tel Aviv). Um modelo maior, para pescas de grande monta, foi utilizado por Jesus e seus apóstolos, quando o messias acalmou uma tempestade (como registrado em Marcos 4).



Conservação

O peixe que não era consumido fresco, destinava-se à salga. Em um tempo sem geladeiras, os peixes maiores eram abertos, tiravam-se as espinhas e vísceras, intensamente salgados, o que permitia que não se estragassem por anos, se necessário, para épocas de escassez de pescado.

 

Peixes salgados e abertos dessa forma ainda são encontrados hoje em dia, como vemos os bacalhaus no comércio. Alguns eram secos ao sol, dependendo do tamanho e espécie. Há indícios de que os antigos egípcios (mestres em salgar suas múmias) assim procediam para estocar o que pescavam no Nilo e no mar próximo à sua foz (como registrado no antigo desenho acima).

Nenhum comentário:

Postar um comentário