"A primeira morada do homem, segundo referências bíblicas, ficava onde hoje se localiza o Iraque e parte da Síria, entre os rios Tigre e Eufrates, além de trechos submersos pelo Golfo Pérsico"
Segundo o livro de Gênesis, em seu segundo capítulo, quando Deus criou o ser humano nas figuras de Adão e Eva, deu-lhes como habitação uma vasta área repleta de fertilidade, de natureza exuberante, com o melhor em recursos vegetais, animais e minerais. A região, conhecida como Jardim do Éden, foi a primeira morada do homem e, conforme a descrição bíblica, ficava entre os rios Tigre e Eufrates, lugar posteriormente chamado Mesopotâmia, onde hoje se localiza o país do Iraque. A porção de terra descrita na Bíblia também abrange uma pequena parte do que hoje é a Síria. Outros dois rios também constam da descrição: o Pisom e o Giom.
No Éden, ao homem era permitido desfrutar de tudo o que a natureza oferecesse em se falando de alimento e abrigo, exceto os frutos da árvore do conhecimento do que era bom e mau. Adão e sua companheira, Eva, desobedeceram a única proibição que tinham e deram origem ao pecado, sendo expulsos pelo Senhor do jardim. Manipulados pela serpente para provarem do fruto proibido, romperam uma aliança muito íntima com Deus, expulsos do lugar que tudo lhes oferecia. Tiveram que, a partir daí, conquistar o alimento com o suor, trabalhando para seu sustento.
Como resultado do dilúvio, também descrito em Gênesis, a área conhecida como Éden foi inundada. Com as mudanças climáticas pós-diluvianas, a área tornou-se desértica.
Na Bíblia, quando o texto se refere a oriente e ocidente, toma como referência geográfica Israel, o que comprova a posição do atual Iraque, ao oriente. O texto das Escrituras atesta que o rio Tigre corre ao oriente da Assíria (atual Síria) correspondendo ao Tigre, hoje conhecido. Dos rios descritos na Palavra, apenas o Tigre e o Eufrates permanecem nos dias atuais. O Pisom e o Gion irrigavam o Éden. Hoje, não mais existentes no mapa, supõe-se que a área que ficava às suas margens esteja submersa no Golfo Pérsico.
Gênesis diz que Deus formou Adão do barro, da terra. O nome Adão, do hebraico, tem o significado de “vermelho” (adom), também significando, com pequena variação fonética (adam), “homem”. Não por acaso, o solo da região tem um forte tom avermelhado.
As evidências histórico-geográficas apontam que a região, hoje conturbada por conflitos e guerras, rica em petróleo (que também não por acaso é resultante do soterramento de grandes florestas da pré-história), é o berço da humanidade.
A disputa pela água
O fato de a área ser fartamente irrigada por grandes rios na época despertou o interesse de muitos povos por aquela região, por estar em terra úmida e propícia à agricultura, uma prática fundamental para a subsistência da população.
Os sumérios foram os primeiros a habitar a Mesopotâmia. Antes de ali se estabilizarem, eram nômades. Acredita-se que eles foram a primeira civilização do mundo e a eles são atribuídas as invenções da escrita e da roda. É difícil afirmar quando isso ocorreu com precisão. No entanto, historiadores, baseados em descobertas arqueológicas, acreditam ser em torno de 4000 a 3500 antes de Cristo (a.C.).
Diversos povos passaram pela região e conquistaram a Mesopotâmia. Impérios caíram e outros novos se ergueram. Um dos mais significativos foi o Império Babilônico, provavelmente estabilizado na região por volta de 1730 a.C. Entre os monarcas que mais se destacaram está Hamurabi (na ilustração), o responsável pela criação do código de leis mais antigo de que se tem história até hoje.
No século VII, a Mesopotâmia, conquistada por gregos e persas, foi sede de um vasto império árabe, que começou com a capital em Damasco, na Síria, e logo depois foi transferida para Bagdá, a cidade das “mil e uma noites”, devido a sua localização estratégica, próxima aos rios.
O Iraque contemporâneo
Entre 1658 e 1918, o Iraque fez parte do Império Otomano, composto principalmente por turcos. Após o término da I Guerra Mundial, o império foi desmembrado e nasceu o Iraque moderno, sob a tutela do Reino Unido. Essa decisão foi tomada pela Liga das Nações, uma organização dos países vencedores da guerra, com o aparente intuito de negociar um acordo de paz.
Contudo, os iraquianos não aceitaram a condição de dominação à qual foram submetidos pela Liga. Surge, a partir disso, um forte movimento pela independência do país.
Em 1932 o Iraque foi declarado independente, embora continuasse com participação intensa da Inglaterra em seu governo. Em 1933, Rhasi I assumiu o trono e, após sua morte, seu filho Faisal II foi coroado em uma iniciativa manipulada pelos ingleses. Faisal II assumiu fortes compromissos com a Inglaterra, o que gerou insatisfação daqueles que clamavam pela verdadeira independência em relação ao poderio britânico.
A República do Iraque foi instaurada somente no dia 14 de julho de 1958 por meio de de um golpe militar liderado pelo general Kassem. Faisal II e sua família foram brutalmente assassinados.
O golpe iniciou um ciclo de agitações políticas que conduziram Saddam Hussein ao poder em 1979. Um ano após a posse de Hussein, o Iraque, apoiado pelos Estados Unidos, começou uma guerra contra o Irã que durou 8 anos, até os dois países decidirem pelo cessar-fogo. Dois anos depois, o Iraque invadiu o Kuwait (foto ao lado), mas foi duramente reprimido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os Estados Unidos intervieram com a operação “Tempestade no Deserto”, libertando o Kuwait.
Em 2003 o Iraque foi invadido pelos Estados Unidos, com apoio da Inglaterra, contrariando a ONU, desfavorável à invasão. Os norte-americanos, após os ataques terroristas ao seu país em 11 de setembro de 2001, usaram o pretexto de que o Iraque estava construindo e estocando armas de destruição em massa. Até hoje nada foi encontrado.
George W. Bush, então presidente dos Estados Unidos, mudando o foco da invasão, declarou guerra ao “eixo do mal”, no qual Hussein era visto como um dos líderes ditatoriais mais cruéis na história contemporânea. Em 2006, Saddam foi capturado (foto à esquerda) após tentar se esconder do exército norte-americano e sentenciado à morte pelo governo iraquiano.
A Síria
A atual República Árabe da Síria foi, em tempos ancestrais, território majoritário de uma região denominada Levante (“onde o sol se levanta", visto do Mediterrâneo). Damasco (foto à direita, nos dias atuais), capital da Síria e importante centro econômico do Oriente Médio há séculos, reivindica o título de cidade mais antiga continuamente habitada. Não é para menos: a história do país remonta a tempos imemoriais. Acredita-se que lá tenha habitado Uz, filho de Arão e descendente direto de Noé.
Damasco também foi capital da Dinastia dos Omíadas, composta pelos califas (líderes religiosos e políticos), entre os anos de 661 e 750. Nessa época, a Síria passou a ser vista como um importante centro comercial, atraindo a ambição estrangeira. Muitos povos dominaram a região, até que em 1516 o país passou a ser parte do Império Otomano.
Com o fim da I Guerra Mundial, a Síria foi divida em duas partes: uma sob poder francês e outra sob o jugo britânico. A independência síria foi conquistada somente em 1946. Desde então, a situação política do país tem sido bastante instável. Sucessivas tentativas de golpe para tomar o poder levaram o país ao estado de sítio. Até hoje, a Síria não possui sistema bancário organizado e inúmeros direitos constitucionais dos cidadãos foram sustados.
Ao contrário do que muitos acreditam, a Síria é um país laico (a religião não interfere no governo), apesar da predominância muçulmana (74% da população). O regime militar adotado em 1970 por Hafez Al-Assad (à esquerda), um oficial fortemente influenciado pelas ideias soviéticas e que foi presidente até o ano de 2000, impera até os dias atuais, agora com seu filho Bashar Al-Assad, no poder. Qualquer manifestação a favor dos direitos humanos é fortemente reprimida pelo governo. Conforme a Anistia Internacional, presos políticos são perseguidos, torturados e executados sem qualquer forma de defesa.
Por conta das constantes guerras civis, muitos sírios procuraram fugir desse cenário. No ano de 1880 teve início uma maciça migração de sírios para o Brasil, então com fronteiras fortemente abertas a imigrantes.
A maioria deles, na época, foi para o Rio de Janeiro ou São Paulo, onde trabalhavam principalmente no ramo comercial. As lojas na região da Rua 25 de Março, em São Paulo, por exemplo, foram fundadas principalmente por imigrantes sírios e libaneses.
A culinária síria, ou da antiga região do Levante, foi muito bem aceita pelo Brasil, hoje presente em praticamente todas as cidades brasileiras. A esfiha, o quibe, a folha de uva recheada (conhecida como “charuto”, também adaptado com o uso de folhas de repolho) e a pita (apelidada aqui como pão sírio), são célebres exemplos da influência gastronômica síria em nosso país.
Apesar dos problemas internos, a Síria é um importante destino turístico. Considerada por muitos o “berço da humanidade”, possui história milenar, refletida em construções preservadas, tombadas como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), como as Cidades Antigas de Alepo, Bosra (onde fica o anfiteatro romano da foto) e de Damasco, o Sítio de Palmira, o Krak (forte) dos Cavaleiros e a Fortaleza de Saladino.